V Domingo de Quaresma
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
A fé e o amor manifestam-se na Palavra com que Jesús ressuscita Lázaro: o escândalo e a loucura de chamar quem está morto e jaz no sepulcro é possível
A passagem da morte à vida, centro da mensagem deste Domingo, é prelúdio, sobretudo com a Ressurreição de Lázaro, do evento Pascal que se aproxima. A Ressurreição aparece como um evento histórico: a morte dos filhos de Israel é o exílio na Babilónia que terminará para que o povo retorne à sua terra (1ª leitura); aparece como evento espiritual que caracteriza o crente que, deixando-se guiar pelo Espirito de Deus, passa da vida de carne (de egoísmo e do pecado) à vida em Cristo (2ª leitura); aparece como evento pessoal e corpóreo que conduz Lázaro a sair do túmulo ao ouvir a Palavra de Jesús (Evangelho). Os textos sublinham as três dimensões da morte: se apenas a morte de Lázaro é física, a morte espiritual de quem vive fechado egocentricamente e a morte simbólica do Povo deportado não são menos dramáticas e menos reais.
A morte comunitária de que fala Ezequiel é a morte da Esperança: “...a nossa esperança desvaneceu-se; ficámos reduzidos a isto." (Ez 37,11). Também nós, nas nossas relações (uma amizade, um amor, um casamento,...) comunitárias e eclesiais podemos experimentar a morte da esperança, a ausência de um futuro. Contudo, o nascimento da fé na ressurreição e na esperança Pascal vem através da morte de outras esperanças. O Espírito criador é também o Espírito que dá vida e suscita esperança mesmo onde reina a morte. Para Paulo, o homem que vive "na carne", na autosuficiência egoista, faz do coração o seu túmulo e é vítima da morte espiritual. Mas o Espírito da Ressurreição que força a impenetrabilidade da morte e faz esvaziar os sepulcros, pode penetrar as redomas individualistas e habitando o coração humano pode fazer renascer o homem para uma vida nova.
O trecho evangélico é uma lição de pedagogia em torno da fé em Cristo, que é a Ressurreição e a Vida. O diálogo entre Jesús e Marta é centrado no crer: "Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá" (Jo 11,25); “Crês nisto?” (11,26); “Sim, ó Senhor; eu creio...." (11,27). Diante da insegurança e precaridade que a prespectiva da morte gera nas nossas vidas (“por causa da morte, nós, homens, somos como cidades sem muros": Epicuro), nós somos tentados a construir baluartes, defesas e barreiras que nos protejam dela. Por causa do medo, somos levados a ter um comportamento defensivo. E assim fazemos, também da vida, morte e escravidão (“...aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão" (Heb 2,15): procurando defendermo-nos da morte, afastamo-nos da vida. Jesús, pelo contrário, pedindo fé e confiança, pede que entremos no seu comportamento face à morte (“Eu já sabia que sempre me atendes,...”: Gv 11,42), comportamento que, enquanto assume a morte e sofre por quem está morto, faz também da morte, vida; vivifica a morte. A fé é o lugar da Ressurreição. A fé de Jesus é assim um magistério porque aprendemos a crer: “... mas Eu disse isto por causa da gente que me rodeia, para que venham a crer que Tu me enviaste." (Gv 11,42). Diz uma homilia de Pseudo Ippolito: “Tendo tu visto a obra divina do Senhor Jesús, não duvides mais da Ressurreição! Lázaro seja para ti como um espelho: contemplando-te nele, crê no despertar".
Se a fé é o lugar da Ressurreição, o amor é a força: Jesús amava muito Lázaro (Jo 11,5) e este amor fez-se visível no seu pranto (cf. 11,35-36). O amor integra a morte na vida e encontra sentido para esta no dom: dar a vida é dar vida. Ter fé em Jesus que é ressurreição e vida significa fazer do amor um lugar em que a morte é posta ao serviço da vida.
A fé e o amor manifestam-se na Palavra com que Jesús ressuscita Lázaro: o escândalo e a loucura de chamar quem está morto e jaz no sepulcro é possível graças à fé n'Aquele que ressuscita os mortos e ao amor -ao humaníssimo amor- que unia Jesús a Lázaro. O poder de ressurreição da Palavra de Jesús está todo na fé e no amor que ela contém.
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano A
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