IV domingo da Quaresma

 

Aquilo de que a parábola acusa o filho mais novo não é tanto o comportamento moral (a vida desregrada) ou a prodigialidade (deu cabo da sua herança) mas a insensatez; o ter vivido asótos, longe do senso, de modo louco e insane (v. 13). O texto não apresenta a sequência pecado - arrependimento - conversão, mas antes uma escolha de vida insane a que se segue uma tomada de consciência da realidade mísera a que o jovem se reduziu e, por fim, a decisão de voltar para casa, para fugir da fome. Não é o arrependimento que transforma o filho mais novo, mas, tão só, uma avaliação realista do que é melhor para si. O arrependimento não aparece aqui como condição do perdão. O arrependimento poderá nascer diante do amor fiel do pai, quando o jovem reler a sua vida à luz daquele amor do pai, que nunca foi pouco, e que ele, simbolicamente, matou pedindo-lhe, antes do tempo, a sua herança. É o perdão que suscita o arrependimento, não o contrário.

Ao amor do pai opõe-se também a lógica do dever que move (ou antes, que torna imóvel) o outro filho. Ele vive uma religião de préstimos que o torna cativo e o leva a não-conhecer o pai (que para ele se torna um patrão) e a desprezar o irmão (“esse teu filho”: v. 30). Ambos os filhos desconsideraram a única coisa necessária: reconhecer a assumir a sua filiação a a sua liberdade. O Espírito Santo é, de facto, o espírito dos filhos, isto é, um espírito de liberdade e não um espírito de escravos ou um espírito de medo (cf. Rm 8,15).

LUCIANO MANICARDI

Comunidade de Bose
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Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano C
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