XI domingo do Tempo Comum
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
No Evangelho, Jesus narra o amor e o perdão de Deus acolhendo a pecadora que se aproxima d'Ele e mostrando ter um coração de carne e não de pedra
domingo 16 junho 2013
de LUCIANO MANICARDI
Ano C
2Sam 12,7-10.13; Sal 31; Gal 2,16.19-21; Lc 7,36-8,3
O amor de Deus atinge o homem no seu pecado e torna-se perdão: o amor que levou Deus a eleger David é um dom que se manifestou existencial e historicamente no que Deus fez por David, o qual, apesar de ter sido beneficiário, não reconheceu o seu valor e desprezou quem o deu (cf. 2Sam 12,10). Chamado a dar nome àquilo que fez, David conhece a contemporaneidade da sua confissão de pecado e do anúncio do perdão de Deus (cf. 2Sam 12,13). No Evangelho, Jesus narra o amor e o perdão de Deus acolhendo a pecadora que se aproxima d'Ele e mostrando ter um coração de carne e não de pedra (cf. Lc 7,36-50).
Na primeira leitura é através de um conto – que fala de outro de outros – narrado pelo profeta Natan (2Sam 12,1-4), que David é atingido no seu pecado (“és tu aquele homem”: 2Sam 12,7); no Evangelho é através de uma breve narração, uma pequena história que fala de um credor e de dois devedores (Lc 7,41-42), que Jesus interpela Simão, o fariseu, e o coloca diante das suas responsabilidades (“Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos”: cf. Lc 7,44-46). A narração de um conto é uma forma doce e convincente que conduz o homem a tomar consciência de si e a sair da preguiça e da hipocrisia.
Aceitando o convite para almoçar, do fariseu Simão, Jesus, que pelos fariseus era acusado de comer com os publicanos e os pecadores (cf. Lc 15,2), mostra agir de um modo ideológico, não premeditado: a comunhão de Deus é para todos, não exclui ninguém do raio do anúncio do amor de Deus. Jesus não sacraliza nem demoniza categorias de pessoas: cada pessoa, enquanto imagem de Deus, pode abrir-se à comunhão de Deus que não se encerra em compartimentos estanques.
Assim como aceita o convite de Simão, assim Jesus acolhe a mulher pecadora (uma prostituta) que se intromete no banquete e que se manifesta com gestos "pouco comuns" o seu amor por Jesus. Para que o encontro aconteça importa que o outro seja deixado livre, capaz de se exprimir como é capaz e está habituado. Jesus acolhe a linguagem que esta mulher conhece: linguagem não verbal mas corporal (ela toca, beija, chora sobre os pés de Jesus, enxuga-os com os seus cabelos e unge-os com perfume). Aquele corpo, até então, objeto de luxúria masculina, torna-se sujeito de amor, aquele corpo comprado mostra-se capaz de gratuidade. O amor é corajoso e esta mulher ousa a sua capacidade de amor correndo o risco de ser desprezada e julgada, como não pode deixar de acontecer na casa de um homem religioso e irrepreensível (cf. Lc 7,39).
O juízo, em que se refugia Simão, seja sobre a mulher (“saberia de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora”: Lc 7,39) seja sobre Jesus (“Se este homem fosse profeta”: Lc 7,39), talvez não seja mais do que a expressão do medo de amar, de deixar-se levar pelo amor, de ousar a única coisa verdadeiramente sensata da vida: amar. Ao fariseu Simão acontece o que frequentemente acontece aos homens religiosos: veem apenas o pecado onde está o amor. E Jesus sabe ver o amor, o grande amor desta mulher que, aos olhos dos "justos", é, apenas, uma "pecadora".
A linguagem usada por Lucas mostra que esta mulher, com as suas lágrimas e os seus gestos de amor, está a viver o seu ser discípula: o seu estar "atrás" de Jesus (Lc 7,38; cf. 9,23; 14,27) e “aos seus pés” (Lc 7,7.38; cf. 10,39; At 22,3) fá-la discípula. Ser discípulo é estar atrás de Jesus para O seguir e aos seus pés para O escutar, mas as formas deste caminho e desta escuta não são iguais para todos, mas diversos e pessoais, inerentes ao mistério de cada pessoa. E Jesus sabe ver não apenas o amor, mas também a fé (Lc 7,50), lá onde os homens religiosos encontram apenas motivo de escândalo. De resto, em Lc 8,2-3, o Evangelista relata uma tradição que fala de uma comunidade de discípulos e discípulas que seguia Jesus: não apenas os doze, mas também algumas mulheres, de que se recorda ainda alguns nomes. Está aqui o paradigma de uma comunidade cristã, composta por homens e mulheres, que não conhece discriminação de gênero.
LUCIANO MANICARDI
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano C
© 2009 Vita e Pensiero