XXVII Domingo do Tempo Comum
O comportamento dos trabalhadores a quem é confiada a vinha (cf. Mt 21,33-39) denuncia um perigo constante nas comunidades cristãs: a ocupação do espaço eclesial por parte de quem exerce a liderança (cf. Mt 21,38). Isto acontece quando um grupo de pessoas que tem um papel dirigente, na Igreja, absolutiza a sua visão e pretende fazer das suas opções a regra.
A parábola coloca-nos diante do enigma da violência que pode escandalosamente surgir no espaço religioso. Nos primórdios da Igreja habitualmente a violência não se reveste de formas clamorosas como a violência física, mas de formas mais subtis como a não escuta, a recusa, a marginalização, o desprezo, o não-acolhimento, o desinteresse, a pressão e o abuso psicológico.
Assim, o agir de Deus que faz do residual humano o fundamento da história da salvação (cf. Mt 21,42), é contradito pelo agir eclesial que cria resíduos e produz marginalizados. É este o agir de Deus: “Deus escolheu os que nada são” (1Cor 1,28). É este o escandaloso agir messiânico e é este que é chamado a ser o agir dos messiânicos, os "cristãos".
O espanto e o escândalo que a atitude do dono da vinha suscita em nós, depois de ter visto tantos dos seus servos sofrerem a violência, de por fim enviar o seu filho, quase subvalorizando o risco, mostra a nossa distância da forma de pensar de Deus, da radicalidade do seu amor, da loucura da sua gratuidade.
A entrega da vinha a um povo que a fará dar frutos, não é um juízo sobre a vinha-de-Israel, mas sobre os seus chefes e é também convite e aviso aos seus descendentes a serem fecundos. Nada se substituições (os vinhateiros não substituem a vinha!): nenhuma ideia da Igreja como novo ou verdadeiro Israel surge do texto.
LUCIANO MANICARDI
Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero
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