XX domingo do Tempo Comum
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Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
Jesus vive o abandono nas mãos de Deus conhecendo o trágico destino dos que ficam à mercê dos homens e da sua maldade
18 agosto 2013
Reflexões sobre as leituras
de LUCIANO MANICARDI
Ano C
Jer 38,4-6.8-10; Sal 39; Heb 12,1-4; Lc 12,49-57
A vocação profética leva Jeremias a encontrar resistência à sua missão, até ser finalmente entregue nas mãos de outros: o seu destino está nas mãos dos outros; a sua vida ou a sua morte dependem de outros; aquela verdade essencial pela qual a nossa vida não é dissociável dos outros e pela qual vivemos, graças aos outros, encontra em Jeremias atirado à prisão e depois libertado, uma confirmação dramática e dolorosa (I leitura). O caminho de Jesus, de obediência ao Pai, é também caminho para Jerusalém, através da imersão ("batismo") que O espera e que Ele receberá quando for entregue nas mãos dos pecadores que o hão-de maltratar e condenar à morte. Jesus vive o abandono nas mãos de Deus conhecendo o trágico destino dos que ficam à mercê dos homens e da sua maldade (Evangelho).
Anunciado pelo Batista, como Aquele que "batizará em Espírito Santo e fogo" (Lc 3, 16), Jesus, durante a sua vida terrena, experimenta a incompletude da sua missão e o preço elevado que ela comporta. O Espírito que descerá no Pentecostes, vai emergir os discípulos no fogo do Espírito, mas este virá apenas depois da sua morte e ressurreição; Jesus reconhece ter de passar pelo fogo que o emerge numa morte cruel. Porque as labaredas do incêndio do Reino chegam antes que Ele seja queimado e consumido por esse fogo. Vindo para narrar um Deus, que é "fogo devorador" (Dt 4,24), para suscitar a paixão pelo Reino, para desinstalar as vidas com o sopro impetuoso do Espírito, para fazer arder os corações com as sua palavras inflamantes, Jesus encontra os que sabem "apagar o Espírito", calar a profecia, mortificar a loucura pelo Senhor. Não existe outro caminho, para Ele, senão apenas aquele que arde e consome o fogo da sua paixão por Deus e do seu desejo de dar comunhão e vida aos homens. Ele próprio torna-se fogo: "Quem está próximo de mim, está próximo do fogo, quem está longe de mim, está longe do Reino", diz um ditado de Jesus citado por Orígenes. O fogo dá luz e calor, mas, no entretanto, consome e devora. Daquela morte nasce a nossa vida. O fogo que Jesus trouxe e espalhou pela terra é paixão de amor e paixão de sofrimento. De resto, quem pode conhecer o segredo do fogo senão aquele que se deixa consumir por ele?
Por muito enigmáticas que sejam as palavras de Jesus sobre o fogo que Ele veio trazer, elas recordam à nossa fatigada cristandade e às nossas velhas igrejas que o cristianismo é vida e fogo, paixão e desejo, aventura e beleza. O Patriarca Atenágoras, de Constantinopla, escreveu: “O Cristianismo é a vida em Cristo. E Cristo não cruza os braços diante da negação ou da rejeição. Fomos nós que carregámos o homem com tantos fardos! Jesus não diz nunca: ‘Não façam, não se deve fazer’. O Cristianismo não é feito de proibições: é vida, é fogo, é criação é iluminação".
A vinda de Jesus é também judicial: a sua presença exige uma tomada de posição e uma escolha que, por vezes, pode provocar divisões: Jesus é, de facto, “sinal de contradição” (Lc 2,34). A própria família não fica isenta dessa intervenção judicial e da separação que ela acarreta (cf. Lc 12,51-53). A urgência do Reino leva à relativização da instituição familiar que é atravessada e dilacerada, como com uma espada, pelas palavras de Jesus, que diz ter por ela um amor prioritário mas que coloca em primeiro plano as exigências do Reino (Lc 14,25-26).
O hoje histórico deve ser julgado a partir da novidade escatológica introduzida por Jesus: o Reino de Deus fez-se próximo. Antes mesmo de reconhecer "os sinais dos tempos", trata-se de reconhecer o sinal do tempo, o sinal de que o próprio tempo se alterou aquando da Encarnação. Esta é ocasião de conversão, apelo à conversão. Assinalado pela erupção do Reino, o tempo da história e da existência pessoal de cada um é kairòs, momento propício à conversão (cf. Lc 13,1-5). É lugar de possível encontro com o Senhor que vem.
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